Fazes-me, só tu, assim,
Falta.
A falta das palavras, dos olhares,
De cada dia.
A falta de seres eu em seres tu,
Em sintonia.
A falta de estares, de ficares,
Aqui.
A falta de tudo me faltar
Sem ti.
A falta de te saber, de te ver,
Da tua ideia.
A falta de te saber continuamente
Alheia.
A falta da poesia, das palavras,
Das frases.
A falta da falta que me fazes.
Ser tudo ou não ser mais que nada:
As únicas hipóteses de ser.
Absorto, vagueio na estrada
Que me encontra p'ra me perder.
Sem mim, a vida sonhada
Nem sonho é p'ra se ver
E não escapo á ideia errada
De que existir é viver.
Ser tudo ou não ser mais que nada:
Qual a hipótese de ser exequível?
Esquecer a resposta encontrada?
Se ao menos fosse possível...
Olha-me nos olhos,
E não mais palavras que isso.
Para quê mais imperfeições
Que a perfeição que diz tudo?
Palavras.
Não gastes o que não tens,
Não uses o que não possuis,
Não te arrependas do que não dizes,
Não te limites a ver: olha somente.
Por uma vez, por um momento,
Olha com olhos de quem não vê,
Olha com olhos de quem sente.
Olha com o olhar cego e perdido
De quem olha por não saber que olha, de quem olha por não saber olhar.
E olha, e não tenhas pressa.
De aprender,
De te prender,
Não tenhas pressa.
Porque tudo acaba um dia, sabes,
E a eternidade está cada vez mais curta,
E o para sempre teima em não ficar,
E o para sempre sempre acaba,
E o nunca esvai-se cada vez mais rápido...
Deixa-te ir pelo olhar cego e pela mão invisível,
Que te guia nele,
Sem te prender, porque o amor é prisão com a porta aberta.
Nada te prende nele. Sem ele, nada te liberta.
Aprende agora a ver, como se abrisses os olhos
Pela primeira vez nos meus.
Aprende a ver o que é agora, e a não desejar mais que isso,
Nem mais tempo que o que temos, ainda que não saibas quanto é,
Pois se o rio não sabe onde corre, nem chora quando seca.
Faz do olhar prolongamento da alma,
(Tão urgentemente como da morte prolongamento da vida)
E das palavras artefactos obsoletos da futilidade do mundo,
E do tempo ferrugem que corrompe a perfeição,
E não digas nada que o silêncio diga melhor.
Apenas o teu olhar, sem palavras, apenas isso.
Fora de perseguições inúteis de desejos e ideais,
Perfeições e imortalidades,
Existências inexistentes e improváveis .
Amor? Não mais que vês.
Não o que observas, não o que reflectes, não o que passas pelo filtro da razão,
(Qual pura impureza da emoção).
Amor.
Nada senão o halo etéreo a tender para o inexistente, condensado no espaço vítreo e efémero do teu, amor, olhar.
Oham para mim no meu devaneio
Devoram-me com o olhar,
E estou sozinho.
Crio-os, crio-os a todos,
Quero-os no meu âmago,
Desejo-os que me vejam,
Que me sintam,
Que me espiem,
Que me compreendam.
As imagens minhas e deles fluem,
E não lhes vejo as caras,
Somente a minha.
Somente vêem a minha,
Somente existe a minha,
A minha.
Sonho-os meros espectadores do meu sucesso inexistente,
E eles cumprem o seu papel,
Admirando-se e aplaudindo o espéctaculo de circo a que assistem:
A minha vida.
E sou, aí sim sou, como nunca sou,
Fascinante, belo, triunfante e melhor, melhor que tudo,
Sempre melhor que tudo e todos,
E recolhendo todos os brancos crisântemos do meu sucesso fingido,
Sem deixar sequer cair uma pétala.
Sentados na plateia da minha consciência,
Imaginações de mim para mim,
São-me tudo o que não posso querer de mais ninguém.
E então, o pano abre-se perante mim e os meus espectadores de ensaio da vida,
E o público real e físico olha-me espectante -
Com aquela natureza fria de tudo quanto é físico no olhar -
E eu tropeço, caio, e faço de mim o que nunca em sonhos e ensaios.
A cortina fecha,
E eu fecho.
Dentro de mim nada muda,
Apenas posso jurar que talvez,
(Talvez)
Me pareceu ver que agora,
Depois de toda a tropêga actuação,
A minha assistência muda
Aplaude com ainda um pouco mais (se é possível) de admiração.
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